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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
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SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
14
jun 2018
quinta-feira 20h30 Cedro
Temporada Osesp: Langrée rege Dukas, Franck e Saint-Saëns


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Louis Langrée regente


Programação
Sujeita a
Alterações
César FRANCK
Sinfonia em Ré Menor, Op.48
O Caçador Maldito
Camille SAINT-SAËNS
Dança Macabra, Op.40
Paul DUKAS
O Aprendiz de Feiticeiro
INGRESSOS
  Entre R$ 50,00 e R$ 222,00
  QUINTA-FEIRA 14/JUN/2018 20h30
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil

Falando de Música
Quem tem ingresso para o concerto da série sinfônica da temporada da Osesp pode chegar antes para ouvir uma aula em que são abordados, de forma descontraída e ilustrativa, aspectos estéticos das obras, biografia dos compositores e outras peculiaridades do programa que será apresentado em seguida.

Horário da palestra: uma hora antes do concerto.

Local: Salão Nobre ou conforme indicação.

Lotação: 250 lugares.

Notas de Programa

CÉSAR FRANCK [1822-90]
Sinfonia em Ré Menor, Op.48 [1886-8]

LENTO. ALLEGRO NON TROPPO

ALLEGRETTO
ALLEGRO NON TROPPO

37 MIN


/INTERVALO


CÉSAR FRANCK [1822-90]

O Caçador Maldito [1881-2]

14 MIN


CAMILLE SAINT-SAËNS [1835-1921]

Dança Macabra, Op.40 [1874]
8 MIN


PAUL DUKAS [1865-1935]

O Aprendiz de Feiticeiro [1897]

12 MIN

 

 

FRANCK

Sinfonia em Ré Menor, Op.48


O sobrenatural, o macabro, o diabólico, sempre foram matéria-prima para a arte, tanto quanto o sublime e o divino. No programa de hoje, todas as peças procuram deliberadamente esse aspecto das preocupações humanas, seja de maneira velada ou francamente descritiva.


César Franck floresceu tarde como compositor. Organista excepcional e professor respeitado, jamais obteve o reconhecimento que sua obra mereceria. Parte desse descaso se devia à personalidade do professor: muito religioso, tímido, retraído, avesso aos salões e às solenidades. No caso da Sinfonia em Ré Menor, escrita no final de sua vida (e hoje uma favorita entre os maestros), a recepção na estreia foi fria. A principal razão do desagrado não teve a ver com a qualidade da música: a sinfonia, como gênero, era considerada germânica pelos franceses, e o establishment intelectual ansiava por uma linguagem tipicamente nacional. A guerra franco-prussiana, ainda muito recente, não predispunha críticos e plateias a aceitarem prazerosamente obras que homenageassem a cultura do país rival.


A má vontade dos críticos da época os impediu de perceberem na obra a fusão verdadeira entre os elementos tradicionais da música sinfônica alemã e do gosto francês, colorido com cromatismos e modulações frequentes, que ela personifica tão bem. Ainda assim, a obra acabou se tornando um modelo para os compositores franceses subsequentes, e ajudou a restaurar na França o prestígio da música sinfônica. Ela desenha uma trajetória que nos leva do sombrio e assustador a um universo confiante e cheio de fé, passando por trechos melancólicos e repletos de dúvidas. Esse caminho é refletido também na modulação da tonalidade principal de Ré Menor para o confiante e jubiloso Ré Maior do final.

 


FRANCK

O Caçador Maldito


O Caçador Maldito é um poema sinfônico baseado em uma balada de Gottfried August Bürger [1747-94]. Dividido em quatro partes bem definidas, que seguem a história ponto a ponto, a narrativa remete a um nobre que, em um domingo, decide ignorar os sinos que convocam os fieis à igreja e sai para caçar. Como castigo, é condenado a ser perseguido eternamente por demônios e criaturas maléficas.


Ouvimos a paisagem do domingo tranquilo, caracterizado pela tonalidade de Sol Maior, em que a presença da religião é evocada, especialmente na voz mística de um cello. Juntam-se os sinos, e elevam-se cantos religiosos. Em seguida, vem o “Allegro”, em Sol Menor, representando o momento da caça. A terceira parte, lenta, nos apresenta a maldição, em uma espera ansiosa, marcada pela tuba, que sela o destino do caçador. Finalmente, ele tenta escapar, em cavalgada desesperada, mas sem sucesso.

 


SAINT-SAËNS

Dança Macabra, Op.40


Compositor, organista e pianista, Camille Saint-Saëns foi homem de grande cultura, bem versado em literatura, artes e ciências. Precoce e hábil, foi extremamente bem-sucedido em tudo que tentou fazer. Como criança prodígio, escreveu as primeiras composições para piano aos três anos, e aos dez fez sua estreia como instrumentista na Salle Pleyel, em Paris. Saint-Saëns foi um dos muitos compositores incentivados e ajudados por Liszt, que desde cedo percebeu seu talento. Ao húngaro, coube escrever o primeiro poema sinfônico, inaugurando o gênero; ao protegido francês, trazer tal gênero para seu país e dar-lhe as características nacionais que hoje associamos a esse formato composicional. Dessa maneira, podemos apontar Saint-Saëns como um dos grandes inspiradores das obras de Franck e Dukas que ouviremos no programa de hoje.


Tendo composto todos os seus poemas sinfônicos entre as idades de 30 e 40 anos, Saint-Saëns foi um grande expoente do gênero, mesmo tendo relativamente poucas obras que nele se enquadram. A Dança Macabra, baseada em poema de Henri Cazalis [1840-1909], trata da lenda segundo a qual a morte, à meia noite do Halloween, se levantaria e, com seu violino, convocaria os mortos a dançarem com ela. A peça abre com a harpa tangendo uma única nota doze vezes, simbolizando as doze badaladas do relógio. O ritmo de valsa pontua o aspecto dançante da obra. O primeiro tema, em solo da flauta, é seguido pelo segundo, uma escala descendente no violino, logo acompanhada pelas cordas. Esses temas, ou fragmentos deles, são então distribuídos entre os vários naipes da orquestra, uma estrutura posteriormente espelhada por Dukas em seu Aprendiz de Feiticeiro.


Assim como a Sinfonia em Ré Menor de Franck, a Dança Macabra não foi bem recebida em sua estreia. Talvez devido à eficácia com a qual o compositor captou o chacoalhar dos ossos e a brincadeira diabólica do poema, a obra foi inicialmente rejeitada pelo público que a considerou muito obscura e demoníaca. Mas o tempo provaria tais críticas como infundadas, já que essa tornar-se-ia a mais executada composição de Saint-Saëns.

 


DUKAS

O Aprendiz de Feiticeiro


Com exceção de sua brilhante peça O Aprendiz de Feiticeiro, pouco do que Dukas escreveu é conhecido do grande público. Crítico severo, especialmente das próprias obras, o francês destruiu diversas de suas partituras e publicou pouquíssimo. Ainda assim, algumas de suas sinfonias, óperas, e até um balé sobreviveram e demonstram a habilidade de unir o impressionismo de que era contemporâneo à tradição romântica. Por isso, e por sua proeminência como professor, crítico e escritor, o compositor acabou influenciando a música do século XX muito mais profundamente do que se poderia imaginar.


O Aprendiz de Feiticeiro merece a popularidade conquistada. Baseada em poema de Goethe [1749-1832], conta a história do aprendiz que seria mais tarde eternizado por Mickey Mouse no filme Fantasia, lançado em 1940. Em um primeiro momento, as cordas estabelecem a atmosfera de mistério do que está por vir. O jovem descobre o suficiente da magia do mestre, representada aqui pelos trompetes, para trazer à vida uma vassoura, o fagote. O aprendiz faz com que o objeto previamente inanimado desempenhe a tarefa de buscar água do rio. Mas o tiro sai pela culatra, e ouvimos na agitação orquestral o desespero do personagem principal, que tenta, sem sucesso, impedir o excesso de água trazido pela vas- soura. Aflito, corta a vassoura em duas, mas agora o trabalho é feito em dobro pelas metades, ouvidas no fagote e clarineta baixo. O tema, obsessivo e tenaz, é dividido entre os instrumentos de sopro, cortado e distribuído entre cada vez mais vozes. As rápidas escalas evocam a fluidez da água e parecem muitas vezes interromper as linhas melódicas dos sopros, como que quebrando o raciocínio do aprendiz. O desastre de inundação é iminente. Mas o feiticeiro, novamente representado pelo trompete, retorna. O encantamento é quebrado e a calma do início é restaurada.


LAURA RÓNAI é doutora em Música, responsável pela cadeira 
de

flauta transversal na UNIRIO e professora
no programa de Pós-Graduação

em Música. É também diretora da Orquestra Barroca da UNIRIO.