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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
16
dez 2017
sábado 16h30 Concertos a Preço Popular
Concertos a Preço Popular: Concerto Especial de Natal


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Thomas Blunt regente
Anna Carolina Moura soprano
Luiz Guimarães tenor
Francisco Meira baixo
Coro Acadêmico da Osesp
Coro da Osesp


Programação
Sujeita a
Alterações
Jan SANDSTRÖM
Es ist ein Ros' entsprungen
Felix MENDELSSOHN-BARTHOLDY
Frohlocket, ihr Völker auf Erden, Op.79 nº 1
Lasset uns frohlocken, Op.79 nº 5
Francis POULENC
Salve Regina
John TAVENER
Hymn to the Mother of God
Benjamin BRITTEN
A Ceremony of Carols, Op.28
Johann Sebastian BACH
Cantata nº 140 - Wachet auf, Ruft uns Die Stimme
INGRESSOS
  R$ 15,00
  SÁBADO 16/DEZ/2017 16h30
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

 

Este Concerto Especial de Natal envolve música vocal de diferentes estilos e épocas. Em entrevista a Sergio Molina, o regente inglês Thomas Blunt comenta o repertório e sua interpretação.


1 - Benjamin Britten desenvolveu um estilo particular, independente das vanguardas francesas e alemãs dos anos 1940 e 1950 e repleto de soluções inventivas. Nesse sentido, o que você pode destacar na escrita de A Ceremony of Carols?


Penso que, de certa forma, Britten era vanguardista; não por seu desejo de chocar e provocar o público como geralmente se espera dos compositores vanguardistas, mas por sua rebelião contra as tradições da composição pastoral britânica. Na verdade, ele considerava europeia sua perspectiva artística, com influências amplas, especialmente de Mahler e Stravinsky. Longe de querer provocar o público, Britten queria servir-lhe e ao mesmo tempo desafiá-lo. Tinha também orgulho de seus trabalhos para amadores e crianças, e A Ceremony of Carols [Uma Cerimônia de Canções de Natal] é um maravilhoso exemplo disto. O que é notável nessa peça é a fusão do antigo e de sua própria voz: o primeiro poema, “Wolcum Yole” [Bem-Vindo, Natal], se desenvolve de forma tão lógica a partir do canto gregoriano! O cenário da cantiga é repleto de contrapontos e cânones, que nunca perdem a magia do Nascimento; até mesmo no interlúdio de harpa, “Hodie Christus Natus Est” [Hoje Cristo Nasceu], o cantochão é citado e desenvolvido. Certamente é uma linguagem musical muito menos desafiadora do que outros trabalhos de Britten deste período, como seu War Requiem, porém, considero essa música muito arrojada, particularmente em seu uso de repetições que apontam em direção a um tipo de minimalismo.

 

2 - Britten sempre se colocou como um pacifista, mesmo em momentos de grande tensão internacional como o período da segunda guerra – quando compôs A Ceremony of Carols –, ou o da guerra fria, época da composição de seu War Requiem. Como você vê a importância dessa mensagem pacifista para o mundo de hoje?


É de suma importância. Não podemos perder de vista a futilidade da guerra, da perda de vidas em troca de ganhos políticos. Acredito que nenhuma outra composição passe esta mensagem de forma mais enfática do que o War Requiem (1). Britten escreveu A Ceremony of Carols a bordo de um navio voltando da América do Norte para o Reino Unido; era uma viagem desagradável, em uma embarcação lotada e mal cheirosa, com o risco permanente de ataque de submarinos alemães. O fato de Britten ter dotado estes poemas medievais de tal delicadeza e charme já é, por si, um testemunho de sua posição pacifista, de que a beleza pode ser criada mesmo se rodeada por guerra e morte.


3 - A Cantata nº 140 foi escrita em 1731, em Leipzig. Para sua composição Bach toma como elemento unificador
o hino luterano Wachet auf, ruft uns die Stimme, que é explorado em movimentos de diferentes estilos. Fale-nos um pouco sobre essa variedade ao longo da peça.


Diferentemente de Händel, Bach viajou muito pouco; em vez disso, estudou diversos estilos e nacionalidades diferentes na música que, por sua vez, influenciaram suas próprias composições. O primeiro movimento foi escrito como uma fantasia coral, no qual a melodia aparece em forma aumentada para sopranos e dobrada para trompas, mas o estilo da música instrumental que envolve é o de uma Abertura francesa, com ritmos fortes e pontuados em compasso 3/4. Bach era hábil na escolha de estilos específicos para se adequar ao texto: o primeiro movimento é uma grande procissão de dez virgens carregando tochas, prontas a encontrar seu noivo, Jesus Cristo. O movimento central “Zion hört” é um prelúdio coral, em que a melodia cantada pelos tenores é acompanhada por outra, contínua, tocada em uníssono pelas cordas agudas. No movimento final, ouvimos o coral interpretado por todas as forças, como um hino da congregação. Os movimentos intermediários são duetos de amor entre a alma e a voz de Cristo; são conversas mais humanas do que os textos dos versos do coral e Bach escolhe um estilo de música mais secular: uma Siciliana para a primeira e um estilo mais operístico para a segunda.

 

4 - A Cantata nº 140 de Bach conta com coro e três vozes solistas, além de uma pequena formação orquestral. Que cuidados você considera necessários para equilibrar a sonoridade?


É essencial que o texto seja sempre ouvido; devemos lembrar que esta é uma música litúrgica escrita para enfatizar a mensagem cristã e a oração para um dia em particular. Deve-se notar que originalmente as cantatas de Bach eram cantadas somente com uma voz para cada parte, mas podemos hoje fazer adaptações de acordo com o local da apresentação. A igreja St. Thomas de Leipzig é uma igreja pequena (local onde foi estreada), mas a Sala São Paulo é uma grande e magnífica sala de concertos! O conjunto pequeno de instrumentos permite-nos buscar maior clareza na textura, para que possamos apreciar não somente o texto dos cantores, mas os instrumentos solo, especialmente o violino e o oboé, nos dois duetos.

 

5 - O programa desta semana traz também peças vocais de Sandström, Mendelssonhn, Poulenc e Tavener. Que nuances você destaca nas peças desses autores?


Es ist ein Ros” [Uma Rosa Brotou] de Sandström é uma peça nova para mim; quando a ouvi pela primeira vez, fiquei impressionado ao perceber como o seu hino do século XVII parece crescer a partir das vozes sem palavras que o envolvem, evocando não só o desabrochar da rosa de Jessé, mas a chegada iminente de Deus na Terra em forma de homem — uma metamorfose sobrenatural.

 

As duas obras de Mendelssohn eu mesmo cantei na época da univerdade e ficaram em minha memória, além de terem sido tocadas no meu casamento no ano passado. A música segue a tradição europeia de compositores pré-barrocos tais como Schütz e Lassus: uma gloriosa e emocionante textura em oito partes, com fortes progressões harmônicas e contrapontos.

 

A música de Poulenc é uma paixão para mim desde a infância, quando era integrante do coral da catedral. A forma como sua música varia entre os extremos de frivolidade e sinceridade sempre me fascinou; Salve Rainha é um belo exemplo desta última, que captura a ternura da Virgem Maria.

 

The Hymn to the Mother of God [Hino à Mãe de Deus], de Tavener, foi escrito para dois coros em cânone, o segundo coro cantando a mesma música do primeiro, mas três tempos depois. Tavener utiliza texturas amplas e ricas que evocam a celebração do céu e da terra por meio da graça da Virgem Maria.


1. O War Requiem de Britten foi executado nesta temporada 2017 pela Osesp com Marin Alsop, em três concertos no mês de outubro.