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SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
04
ago 2016
quinta-feira 10h00 Ensaio Aberto
Ensaio Aberto: Stenz e Freitas


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Markus Stenz regente
Denise de Freitas mezzo soprano


Programação
Sujeita a
Alterações
Hans Werner HENZE
Sinfonia nº 7
Maurice RAVEL
Sheherazade
Bolero

 

Durante o Ensaio podem acontecer pausas, repetições de trechos

e alterações na ordem das obras de acordo com a orientação do regente. 

INGRESSOS
  R$ 10,00
  QUINTA-FEIRA 04/AGO/2016 10h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

 

Na Sinfonia nº 7, procurei me submeter completamente às regras tradicionais da sinfonia clássica, a fim de moldar minha expressão musical como se a estivesse fundindo numa fornalha e, dessa forma, permitir que a obra alcançasse o ouvinte da maneira mais direta e clara possível.

 

O primeiro movimento é uma espécie de dança germânica, uma “Alemanda”, por assim dizer; o segundo é um Lied. O terceiro, um scherzo, é uma representação do sofrimento do poeta alemão Friedrich Hölderlin na instituição psiquiátrica do Dr. Autenrieth, em Tubinga. O último movimento é uma encenação do poema Hälfte des Lebens [Metade da Vida], de Hölderlin.

 

HANS WERNER HENZE. Tradução de Jayme da Costa Pinto.

 

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Nascido em Gütersloh, em 1926, Hans Werner Henze testemunhou, ainda criança, o processo de estigmatização da música, das artes e da literatura modernas pelos nazistas. No fim da década de 1940, entrou em contato com o serialismo e passou a frequentar os Cursos de Verão para Música Nova de Darmstadt.


Henze deixou a Alemanha em 1953 e se estabeleceu na Itália. O distanciamento geográfico da teoria musical alemã contemporânea contribuiu para que desenvolvesse novas e variadas formas de expressão.


Entre 1980 e 1991, de volta a seu país natal, foi titular de uma cátedra na Staatliche Hochschule für Musik, em Colônia. Também foi compositor residente do Berkshire Music Center, em Tanglewood, em 1983 e entre 1988 e 1996, bem como da Orquestra Filarmônica de Berlim, em 1991. Em 1976, fundou a Cantiere Internazionale d’Arte, em Montepulciano e, em 1988, criou o Festival Internacional de Música Nova, dedicado à ópera, em Munique, evento que comandou até 1996.


Henze é autor de concertos, oratórios, ciclos de canções e música de câmara, além de dez sinfonias e várias óperas, que fizeram dele um dos compositores contemporâneos mais tocados de nossa época.


Texto publicado no site da editora Schott Music. Tradução de Jayme Costa Pinto.

 

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Francês de origem basca, nascido em 1875 na cidade de Ciboure, o compositor Maurice Ravel não foi infenso à corrente abertamente “exoticizante”, verificada na música erudita de sua época. Para tanto, parecem ter contribuído as suas origens, que o aproximavam da Espanha, de algum modo pensada como espaço exótico devido ao seu passado mouro — lembremos Carmen, de Bizet, ou os “temas hispano-árabes” que, segundo o próprio Ravel, constituíam seu Bolero —, bem como à excelente formação intelectual proporcionada pela família do compositor, o que lhe permitiu voos de longo alcance.

 

Dentre suas principais obras — peças para piano, orquestrais, músicas de câmara, melodias e obras líricas — estão, além de Bolero, o Concerto Para Piano em Sol Maior (1929-31), Daphnis e Chloé (1909-12), Pavana Para Uma Infanta Defunta (1899-1901) e Rapsódia Espanhola (1907-8). Ravel morreu em 1937 em decorrência de uma doença neurológica contraída em 1932, ano em que estreou uma de suas obras-primas, o sombrio Concerto Para Piano Para a Mão Esquerda, dedicado ao pianista Paul Wittgenstein, que perdera a mão direita durante a Primeira Guerra Mundial.

 

Em 1898, Ravel compôs sua abertura Shéhérazade, em parte influenciado pelo sucesso da obra homônima do russo Nikolai Rimsky-Korsakov, lançada dez anos antes. A abertura não foi bem recebida, e talvez por isso Ravel não tenha hesitado em dar o mesmo título a um ciclo de canções que compôs em 1903, baseado em poemas de Tristan Klingsor, pseudônimo de Léon Leclère (1874-1966), poeta, músico e crítico de arte francês — e, assim como Ravel, membro do coletivo de artistas Os Apaches.

 

O compositor pediu que seu amigo recitasse os poemas em voz alta, para melhor captar as intenções expressivas de cada verso. “Asie” [Ásia] começa com a evocação, três vezes repetida, do nome do continente, descrito no poema de Klingsor como “antiga terra maravilhosa [...] onde a fantasia dorme como uma imperatriz”. Passagens lânguidas são alternadas com outras mais agitadas, sempre orquestradas com a elegância e originalidade características de Ravel.

 

A canção seguinte, “La Flûte Enchantée” [A Flauta Mágica], traz a tranquilidade de uma tarde quente. O texto descreve a melancolia de uma jovem que ouve as melodias de uma flauta, tocadas ao longe por seu amado.

 

“L’Indifférent” [A Indiferente] é a última e a mais breve das três canções. Depois de uma belíssima introdução, ouve-se a descrição de um possível encontro amoroso, que afinal não se concretiza.

 

Tanto a abertura quanto o ciclo de canções Shéhérazade constituem, junto com Introdução e Allegro, de 1905, Ma Mère l’Oye [Mamãe Gansa], de 1911-2, e o inacabado oratório-balé Morgiane, a parte, por assim dizer, “orientalista” da obra de Ravel.

 

O sucesso de Bolero, de 1928, causou algum incômodo ao compositor, que considerava a peça banal. Essa opinião não é compartilhada pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss, que dedicou uma longa passagem de seu livro O Homem Nu à análise da peça. O Bolero se divide em dois temas, ambos com nove aparições, cada uma a cargo de um instrumento ou pequeno conjunto de instrumentos, até o apogeu final, em que a orquestra comparece em massa. Para Lévi-Strauss, um dos aspectos fundamentais do Bolero de Ravel é a “ambiguidade entre as codificações e recodificações binárias do discurso musical e o metro ternário que o escande, entre a simetria complexa predominante na construção e a assimetria simples predominante na exposição”.¹

 

Para outros comentadores, o Bolero é uma espécie de “manual de orquestração” legado por Ravel a seus discípulos.

 

MAMEDE JAROUCHE é professor de literatura árabe na USP e tradutor do Livro das Mil e Uma Noites (Globo, 2005), dentre outras obras.

 

Este programa é dedicado à memória da mezzo soprano Stela Doufexis [1968-2015], parceira muito estimada da Osesp. Originalmente convidada para cantar Schéhérazade, Stella faleceu em dezembro passado, para consternação de todos que a conheciam.

 

1 LÉVI-STRAUSS, Claude. O Homem Nu. São Paulo: CosacNaify, 2011.