Sempre tive interesse pela Sinfonia nº 6, de Ralph Vaughan Williams, uma peça de estrutura ampla, emoção poderosa e forma incomum. A orquestração é grandiosa e diversificada (inclui saxofone), e os quatro movimentos são interligados, sem pausa. A obra foi composta entre 1944 e 1947 e estreou em 1948, em Londres. Em 1950, já havia sido apresentada mais de cem vezes. As plateias desses concertos ouviam, na música, “sinais de um profundo conflito espiritual”,1 possivelmente relacionado ao final da Segunda Guerra, em 1945.
O grande musicólogo Deryck Cooke esteve na primeira audição. O efeito da música sobre ele foi nada menos que cataclísmico. “A violência da abertura e o desassossego de todo o primeiro movimento; os murmúrios sinistros do andamento lento, com aquela passagem quase insuportável em que as trompas e a percussão disparam num ritmo trágico, cada vez mais ruidoso, e que não se esvai; o clamoroso alvoroço do ‘Scherzo’ e a grotesca trivialidade do trio; e, acima de tudo, o lento ‘Epílogo’, em pianíssimo, desprovido de calor e vida, um passeio desesperançado por um mundo extinto... cada gota de sangue congelada nas veias.”2
O compositor não respondeu a perguntas sobre o “significado” da Sinfonia, mas, com relação ao extraordinário movimento final, chegou a citar Próspero, de A Tempestade, de Shakespeare: “Somos feitos da matéria de que se fazem os sonhos; e nossa vida pequenina é cercada pelo sono”.
Johannes Brahms compôs as Quatro Canções Sérias para piano e voz. Diversos arranjos para orquestra foram feitos por outros compositores. Em minha opinião, nenhum deles havia sido bem-sucedido, até que ouvi os Quatro Prelúdios e Canções Sérias, de Detlev Glanert. As orquestrações das canções são magníficas — ricas e obscuras, soberbamente trabalhadas e totalmente fiéis ao espírito de Brahms. Glanert acrescentou uma introdução e três seções encadeadas que funcionam como prelúdios — e são uma homenagem a Brahms. Para mim, são fascinantes e estou muito feliz por tê-las incluído em nosso programa.
A peça de abertura do programa — uma composição de Bach orquestrada por Arnold Schoenberg — é mais um exemplo de homenagem pessoal de um grande compositor a outro. Schoenberg demonstra domínio orquestral notável, escrevendo para um conjunto bastante grande, ainda que o resultado soe algo incomum para nossos ouvidos, acostumados à delicadeza de performances mais fiéis à versão original de Bach.
O compositor fez o arranjo em 1928 e escreveu: “Eu modernizei, por assim dizer, o órgão. Substituí sua rara e lenta mudança de cor por algo mais variado, que estabelece precisamente a interpretação e o caráter das passagens individuais; e também privilegiei a clareza no emaranhado de vozes”.
SIR RICHARD ARMSTRONG. Tradução de Jayme Costa Pinto.
1 Kennedy , Michael. The Works of Ralph Vaughan Williams. Oxford: Oxford University Press, 1972.
2 Cooke , Deryck. The Language of Music. Oxford: Oxford University Press, 1969.