PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
06
jul 2018
sexta-feira 20h30 Paineira
Temporada Osesp: Alsop rege Almeida Prado e Strauss
MAIS DATAS 05 jul 18  


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Marin Alsop regente
Bolsistas do Festival


Programação
Sujeita a
Alterações
J. A. Almeida PRADO
Sinfonia dos Orixás: Seleção
Richard STRAUSS
Sinfonia Alpina, Op.64
INGRESSOS
  Entre R$ 50,00 e R$ 222,00
  SEXTA-FEIRA 06/JUL/2018 20h30
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil

Falando de Música
Quem tem ingresso para o concerto da série sinfônica da temporada da Osesp pode chegar antes para ouvir uma aula em que são abordados, de forma descontraída e ilustrativa, aspectos estéticos das obras, biografia dos compositores e outras peculiaridades do programa que será apresentado em seguida.

Horário da palestra: uma hora antes do concerto.

Local: Salão Nobre ou conforme indicação.

Lotação: 250 lugares.

Notas de Programa

JOSÉ ANTONIO ALMEIDA PRADO [1943-2010]

Sinfonia nº 2 - Dos Orixás: Suíte [1984-5] (Carlos Eduardo Moreno [org.])

CHAMADO AOS ORIXÁS - RITUAL INICIAL

OBATALÁ - O CANTO DO UNIVERSO


IFÁ - O CANTO DA ADORAÇÃO


OGUM-OBÁ - A DANÇA DA ESPADA E DO FOGO

IBEJI - CANTIGA PARA COSME E DAMIÃO

OXALÁ II - O JOGO DOS BÚZIOS
IANSÃ - O CANTO DA PAIXÃO


XANGÔ II - O CANTO DAS TEMPESTADES, RAIOS E CORISCOS

OXUMARÊ - O CANTO DO ARCO-ÍRIS


RITUAL FINAL

18 MIN

 

INTERVALO

 

RICHARD STRAUSS [1864-1949]

Sinfonia Alpina, Op.64 [1911-15]

NOITE
NASCER DO SOL
ASCENÇÃO
ENTRADA NA FLORESTA
CAMINHANDO À BEIRA DO RIACHO
NA CASCATA
APARIÇÃO
SOBRE PRADOS FLORIDOS
NA PASTAGEM ALPINA
PERDENDO-SE POR ENTRE O BOSQUE DENSO E O MATAGAL

NO GLACIAR
INSTANTES PERIGOSOS
NO CUME
VISÃO
AUMENTO DO NEVOEIRO
O SOL ENCOBRE-SE POUCO A POUCO
ELEGIA
CALMA ANTES DA TEMPESTADE
TROVOADA E TEMPESTADE, DESCIDA
PÔR-DO-SOL
FINAL
NOITE

47 MIN

 

 

ALMEIDA PRADO

Sinfonia nº 2 – Dos Orixás: Suíte


Composta entre 1984 e 1985, por ocasião da comemoração dos dez anos da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, a Sinfonia dos Orixás foi construída originalmente em três movimentos: “Chamado dos Orixás (Ritual Inicial)”, “Manifestação dos Orixás” e “Ritual Final”. O corpo principal da obra é o movimento central, dividido em dezessete partes, em que são ouvidos quinze cantos dos orixás e dois interlúdios. Apesar destas divisões, a música transcorre sem interrupções, do início ao fim. Muitos dos seus motivos melódicos e rítmicos foram baseados em pontos recolhidos por sua mulher, Helenice Audi, que frequentava um centro de umbanda.


Se observada em sua estrutura geral, a Sinfonia dos Orixás assemelha-se a uma suíte, com um movimento introdutório e outro conclusivo. No entanto, a maneira como o compositor construiu o desenvolvimento temático da peça justifica a escolha pela denominação de “sinfonia”. Dois temas dialogam por toda a obra. O tema dos orixás femininos surge de um motivo de três notas, logo no início do primeiro movimento, e vai se construindo ao longo da Sinfonia. Já o tema dos orixás masculinos sofre o processo inverso: é apresentado como um tema completo e vai se diluindo até o movimento final.


Em 2010, o maestro Carlos Moreno idealizou e organizou uma suíte da Sinfonia dos Orixás, estreada, sob sua regência, com a Orquestra Sinfônica de Santo André, uma semana após a morte do compositor. Os movimentos inicial e final permaneceram inalterados, tendo a reorganização incidido apenas sobre a “Manifestação dos Orixás”. Das dezessete partes, oito foram mantidas.


Na Suíte [lançada pela Osesp no Selo Digital], temos uma introdução e uma conclusão, com uma sequência de cantos no movimento central, independentes do desenvolvimento temático. Fluem as melodias de fácil reconhecimento, que se sucedem e se sobrepõem, mas o destaque está na escrita rítmica e na ampla seção de instrumentos de percussão. O extenso movimento central apresenta uma grande variação de ambientes, como o breve e quase estático “Ifá”, o pulsante “Ogum-Obá” e o lírico “Ibeji”. “Manifestação dos Orixás” se conclui com “Oxumarê”, preparando o “Ritual Final”. Neste movimento os instrumentos entram em grupos: primeiro os metais, seguidos das cordas, da percussão e das madeiras. Cada um deles toca um motivo e o repete incessantemente até que todos se encontrem em um brilhante e sonoro acorde que encerra a Sinfonia.


CARLOS FIORINI é regente e professor de regência

do Departamento de Música da Unicamp.

 

 

STRAUSS

Sinfonia Alpina, Op.64


“[...] minha Sinfonia Alpina [...] envolve purificação moral por meio do esforço próprio, liberação por meio do trabalho e a adoração da eterna e gloriosa Natureza” (1): assim referiu-se Richard Strauss [1864-1949] à sua última grande obra sinfônica em seu diário em 1911, quando intensificou a dedicação à obra, iniciada já em 1900. Apesar do título, a Sinfonia Alpina é em sua estrutura um poema sinfônico, gênero explorado com maestria pelo compositor e que consiste em uma obra orquestral em movimento único que alude a um conteúdo extramusical (um programa, sendo por isso uma obra programática). Trata-se da escalada e descida de uma montanha nos Alpes Bávaros, do alvorecer ao anoitecer, em 22 seções interligadas que recebem títulos de eventos e paisagens do caminho. Strauss realizara a aventura na juventude (2), e desde 1908 residia na região (3).


A magistral orquestração requer 125 músicos, contendo tubas wagnerianas, metais fora do palco, órgão e vários instrumentos de percussão, incluindo máquinas de trovão e de vento – em seu primeiro uso orquestral. A peça possui caráter cíclico, começando e terminando com o motivo descendente da “Noite” e eclodindo, em sua metade, no clímax protagonizado pelos metais na “Visão” panorâmica do cume. Os metais também marcam o “Nascer do Sol” com um acorde glorioso, e a “Entrada na Floresta”, agora criando uma aura de mistério. Rápidos arpejos descendentes ilustram a queda d'água em “Na Cascata”, em “Na Pastagem Alpina” podemos ouvir sinos de vacas (4) e cantos de pássaros, e em “Na Geleira” uma modulação para o modo menor cria uma atmosfera de perigo. Na segunda metade da peça a orquestração gradativamente escurece, preparando os assustadores “Trovoada e Tempestade”, que se dissipam para a “Descida” e “Pôr- do-sol”. Uma engenhosidade técnica: na primeira metade da peça os temas principais são ascendentes, ilustrando a subida; na segunda metade, a descida, os temas tornam-se descendentes. O tema da “Descida” após a tempestade, por exemplo, é a inversão do tema da “Ascensão”.

 

Poeticamente, a obra também pode aludir à jornada de uma vida: talvez a do próprio compositor, que adentrava a faixa dos 50 anos em 1914 (embora ainda fosse viver outros 35); talvez a do artista plástico (e alpinista amador) Karl Stauffer, a quem a peça foi dedicada em um rascunho (5); ou quem sabe a de Gustav Mahler, cuja morte em 1911 abalou Strauss profundamente. A referência pode ser ainda à vida arquetípica de um artista, sendo inspirada na obra de Nietzsche (6).


Strauss regeu a estreia em 1915 e, depois, a primeira gravação da obra. Nos 15 anos de gestação da peça, compôs as óperas Salomé e Elektra, cujas dissonâncias pavimentaram a via de dissolução do tonalismo, então já percorrida por compositores como Stravinsky e Schoenberg. A harmonia da Sinfonia Alpina é, contudo, menos cromática e vanguardista – como ocorre com surpreendente frequência nas estéticas de compositores inovadores quando contemplam suas vidas a partir de seus crepúsculos.

 

1. Diário de Strauss citado por Stephan Kohler na Introdução à partitura da Sinfonia Alpina pela editora Eulenburg.
2. Aos quinze anos, Strauss juntou-se a um grupo para escalar a montanha Heimgarten a partir da cidade de Murnau. A experiência, narrada em cartas para sua irmã, contém eventos muito similares aos títulos das seções da Sinfonia Alpina.
3. Em 1908, Strauss construiu uma casa na pequena cidade Garmisch-Partenkirchen, no sul da Alemanha, próxima ao mais alto cume dos Alpes em território germânico (o Zugspitze).
4. Mahler já havia utilizado o efeito, com o instrumento de percussão cowbell, em sua Sinfonia nº 6 [1906].

5. Karl Stauffer-Bern foi um pintor e escultor suíço do século XIX, nascido na região dos Alpes, que se tornou famoso por seus retratos – especialmente depois que um episódio amoroso malsucedido o levou a ser internado em uma clínica psiquiátrica. Um dos rascunhos da Sinfonia Alpina recebeu o título de Künstlertragödie (Tragédia de um Artista), contendo em sua contracapa a indicação: Tragédia Amorosa de um Artista – em Memória de Karl Stauffer.
6. Strauss foi profundamente influenciado pela obra de Nietzsche e em um dos rascunhos chegou a intitular a Sinfonia Alpina de O Anticristo – homonimamente ao livro do filósofo. Coincidência ou não, esse nome foi retirado no rascunho que sucedeu a morte de Mahler, que convertera-se ao cristianismo.


JÚLIA TYGEL é pianista e professora na Faculdade de Música Souza Lima e

na EaD da UFSCar. É doutora em Música pela USP com estágio na

City University of New York como bolsista CAPES/Fulbright.

 


Leia o ensaio "Richard Strauss: Sinfonia Alpina", de Malcolm Macdonald, aqui.