ZOLTÁN KODÁLY [1882-1967]
Danças de Galanta [1933]
LENTO
ALLEGRETTO MODERATO
ALLEGRO CON MOTO, GRAZIOSO ALLEGRO
ALLEGRO VIVACE
15 MIN
DMITRI SHOSTAKOVICH [1906-75]
Concerto nº 2 Para Piano em Fá Maior, Op.102 [1957]
ALLEGRO
ANDANTE (ATTACCA)
ALLEGRO
20 MIN
/INTERVALO
WOLFGANG AMADEUS MOZART [1756-91]
Sinfonia nº 1 em Mi Bemol Maior, KV 16 [1764]
MOLTO ALLEGRO
ANDANTE
PRESTO
13 MIN
LUDWIG VAN BEETHOVEN [1770-1827]
Sinfonia nº 1 em Dó Maior, Op.21 [1799-1800] /AS NOVE SINFONIAS
ADAGIO MOLTO. ALLEGRO CON BRIO
ANDANTE
MENUETTO
ADAGIO. ALLEGRO MOLTO E VIVACE
26 MIN
KODÁLY
Danças de Galanta
Os húngaros devem a Kodály a preservação de muito de sua música folclórica, que ele recolheu e pesquisou durante toda a vida. Ainda assim, é um caso típico de santo de casa que não faz milagre: foi apenas depois do sucesso internacional que suas obras foram aceitas e festejadas em seu próprio país.
Na infância, o compositor morou na região de Galanta, onde o pai trabalhava na via férrea. Lá, sua vida foi permeada pela música tradicional húngara e cigana. A cidade era a sede de uma banda de Verbunkos famosa, cujo líder era o violinista Mihók. Verbunkos é um gênero particular de música: inicialmente usada por bandas austríacas itinerantes como atrativo no recrutamento de jovens que viriam a engrossar as fileiras do exército, acabou por se tornar um gênero autenticamente húngaro.
Uma coletânea de melodias desse tipo, publicada em Viena em torno de 1800, serviu de fonte para o compositor, que escreveu as Danças de Galanta como encomenda para os 80 anos da Sociedade Filarmônica de Budapeste. Na orquestração,entre os inúmeros e encantadores solos para sopros, tem destaque a clarineta, que evoca o som de um dos instrumentos mais característicos da estepe húngara: o tárogató, igualmente uma madeira de palheta única, de som penetrante e anasalado. Como as melodias de Verbunkos, a obra tem uma introdução lenta e sinuosa, improvisatória, que desemboca em danças vigorosas e alegres, às vezes interrompidas pelo canto nostálgico da clarineta, e com a típica acentuação lombarda e as síncopes que imitam a cadência da própria língua magyar.
SHOSTAKOVICH
Concerto nº 2 Para Piano em Fá Maior, Op.102
Aos 19 anos, Maxim Shostakovich, um pianista de talento, aluno do Conservatório de Moscou, recebeu do pai, Dmitri, um presente e tanto: um Concerto Para Piano a ser estreado em sua formatura. Talvez pela alegria da ocasião e pela idade de seu jovem solista, o Concerto exibe orquestração delicada, sendo uma das obras mais leves e divertidas do compositor.
O primeiro movimento tem um clima brincalhão e extrovertido, pontuado por bravata militaresca e galhofeira. No segundo, cantabile, inocente e doce, a própria singeleza temática lembra as primeiras incursões na vida amorosa, com ambiguidades rítmicas que dão graça às frases, evitando que fiquem excessivamente lamurientas. O “Allegro” final volta ao clima despreocupado do início, com um humor carinhoso que se revela na citação aos famosos exercícios diários de Charles-Louis Hanon, uma base da técnica de teclado, talvez como um lembrete simpaticamente jocoso ao filho de que o estudo de um instrumento não se encerra com a diplomação do músico.
MOZART
Sinfonia nº 1 em Mi Bemol Maior, KV 16
Em 1764, aos oito anos de idade, Mozart fazia grande sucesso se apresentando como criança prodígio em várias capitais da Europa. A Primeira Sinfonia foi composta durante uma dessas viagens de exibição, em Londres, e teve sua estreia um ano depois. Evidencia um talento excepcional para a composição, e também sinaliza um artista antenado, ciente do que fazia sucesso no momento, e do que poderia agradar à plateia. É clara, nela, a influência dos filhos de Bach, particularmente de Johann Christian, conhecido como o “Bach inglês”, que fez grande carreira na capital do Reino Unido. A instrumentação também segue a voga para sinfonias naquele momento, com oboés e trompas, e a distribuição de movimentos, rápido-lento-rápido, era também a mais comum então, com o primeiro movimento em forma-sonata.
O início é baseado num arpejo em posição fundamental, quase um anúncio de intenções: a tonalidade se estabelece da maneira mais direta, simples e óbvia possível. Ainda assim a música, que como era de se esperar não atinge o nível sublime das obras de maturidade do compositor, já mostra várias das qualidades do Mozart adulto: o instinto infalível para inflexões dramáticas, a elegância, a facilidade no tratamento harmônico, o senso de direção sempre claro, e a manipulação de ornamentos tão apurada que eles são sempre mais do que meros enfeites à estrutura, servindo como comentários sobre a própria obra. O “Andante”, mais reflexivo, tem acompanhamento fluido de quiálteras que se estruturam como uma espécie de tapete sobre o qual se desenrolam os motivos que passeiam entre os naipes da orquestra. No “Presto”, de uma vivacidade exemplar, e trazendo de volta o arpejo do “Molto Allegro”, os recursos de dinâmica são muito bem explorados, com passagens que contrapõem violinos solo e tutti orquestral.
BEETHOVEN
Sinfonia nº 1 em Dó Maior, Op.21 /AS NOVE SINFONIAS
A Primeira Sinfonia de Beethoven foi dedicada ao Barão van Swieten, um de seus patronos iniciais, homem culto e brilhante que se tornou amigo dos maiores músicos de seu tempo. A Sinfonia pretendia ser uma carta de apresentação para Beethoven, que se aventurava na forma então considerada o passaporte para a maturidade artística de qualquer compositor sério.
Ela segue a praxe no que se refere à forma; é no conteúdo que deixa sua marca. O primeiro movimento já começa de maneira pouco usual, com uma sequência de acordes de dominante normalmente empregada para sinalizar o final de uma peça. Somente depois de um longo trecho de “despedida” é que o movimento finalmente engrena, com o vigor característico do compositor, que explora síncopes, acentos deslocados, e crescendos empolgantes.
O segundo movimento, clássico em forma e espírito, transcorre com elegância mozartiana. O “Menuetto” tão ligeiro que mais parece um scherzo, mistura em igual proporção ansiedade e graça. O “Finale” tem uma introdução lenta, só nos violinos, que parecem estar tateando em busca do tema. Este chega trazendo ímpeto, exuberância e senso de humor dignos de Haydn. Longe de ser incipiente, a Sinfonia nº 1 tem o frescor da juventude, mas mostra toda a solidez de uma obra de maturidade, com recursos de imaginação e técnica já completamente desenvolvidos em um estilo próprio e verdadeiramente espetacular.
LAURA RÓNAI é doutora em Música, responsável pela cadeira de flauta
transversal na UNIRIO e professora no programa de Pós-Graduação
em Música. É também diretora da Orquestra Barroca da UNIRIO.
Leia o ensaio "A Era de Beethoven", de Arthur Nestrovski, aqui.